A Polícia Militar de São Paulo (PMESP) enfrenta um problema grave e crescente: o aumento significativo no número de policiais que pedem exoneração. Em entrevista exclusiva ao Canal Segurança e Defesa TV, Gilberto, advogado e veterano da PM-SP, analisou as causas dessa debandada e os impactos para a corporação e a segurança pública.
Vamos explicar de forma clara e acessível os principais pontos levantados por ele, trazendo uma visão realista e preocupante da situação atual.
Por que tantos policiais estão indo para baixo na PM-SP?
Segundo o Dr Gilberto, o principal motivo da debandada é
a desmotivação dos policiais para continuar no serviço. Essa desmotivação tem
várias raízes, entre elas:
- Falta
de folga real e excesso de trabalho: O policial infelizmente consegue
aproveitar suas folgas para descansar ou estar com a família, devido à
chamada "agenda delegada" — escalas extras que, na prática, se
tornam obrigatórias para complementar a renda, gerando estresse e desgaste
físico e emocional.
- Insegurança
jurídica: Hoje, o policial não sabe se volta vivo para casa após o
serviço e tampouco se manterá seu emprego, pois a "via rápida"
para demissão tem sido usada com frequência. Muitas vezes, erros em
ocorrências resultam em processos e demissões rápidas, mesmo que o
policial seja posteriormente absolvido na justiça criminal.
- Salário
defasado e falta de valorização: Apesar de o baixo salário sempre ter
sido uma realidade, hoje ele se tornou um fator ainda mais crítico, pois o
policial percebe que, em outras funções, como vigilância privada, pode
ganhar mais trabalhando menos e com menos pressão.
- Diferenças
internas e falta de acolhimento: A corporação apresenta uma divisão
clara entre oficiais e praças, com oficiais frequentemente trabalhando em
funções administrativas e ganhando mais, enquanto as praças, que estão na
linha de frente, enfrentam maiores riscos e responsabilidades sem o devido
reconhecimento.
- Assédio
moral e pressão excessiva: Cobranças exageradas, ordens implícitas de
trabalho voluntário em atividades não relacionadas ao policiamento e um
ambiente de trabalho opressivo também alterado para o desgaste da tropa.
Esses fatores combinados levaram a um número alarmante de
pedidos de baixa, incluindo oficiais de várias patentes, algo considerado
anormal e preocupante para a corporação.
Os impactos da debandada e o que pode ser feito
A saída constante de policiais gerava um efeito dominador
negativo para a segurança pública e para o próprio PM. A falta de proteção
aumenta a sobrecarga dos que permanecem na ativa, elevando o estresse e o risco
de erros, o que pode resultar em mais punições e demissões.
O Dr Gilberto destaca que a solução não é simples nem
imediata, mas sugere alguns caminhos:
- Realização
de pesquisas anônimas e séries para identificar os problemas reais que
afetam os policiais no dia a dia, garantindo que as respostas sejam
sinceras e possam orientar políticas eficazes.
- Valorização
do policial de rua , que é o verdadeiro protagonista da segurança, com
melhores condições de trabalho, remuneração justa e respeito às suas
folgas e direitos.
- Mudanças
na cultura organizacional , combatendo o assédio moral e promovendo
uma liderança mais próxima e acolhedora, que entenda as dificuldades da
tropa.
- Uniformidade
na gestão e continuidade nos comandos , evitando mudanças frequentes
que desestabilizam as unidades e prejudicam a moral dos policiais.
- Revisão
da "via rápida" e dos processos disciplinares , para
garantir a justiça e evitar demissões precipitadas que geram frustração e
insegurança.
Gilberto também ressalta que os batalhões onde o
comando é atuante e próximo da tropa apresentam menor índice de pedidos de
baixa e melhor desempenho funcional, mostrando que a liderança faz diferença.
Este cenário evidencia a necessidade urgente de atenção às condições de trabalho e à saúde física e mental dos policiais militares de São Paulo. A debandada não é um problema isolado, mas um sintoma de questões estruturais que precisam ser enfrentadas para garantir a segurança e o bem-estar dos profissionais que dedicam suas vidas à proteção da sociedade.
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