20 abril 2025

Debandada na PM de São Paulo: Entenda os motivos e desafios do militarismo

 A Polícia Militar de São Paulo (PMESP) enfrenta um problema grave e crescente: o aumento significativo no número de policiais que pedem exoneração. Em entrevista exclusiva ao Canal Segurança e Defesa TV, Gilberto, advogado e veterano da PM-SP, analisou as causas dessa debandada e os impactos para a corporação e a segurança pública. 

Vamos explicar de forma clara e acessível os principais pontos levantados por ele, trazendo uma visão realista e preocupante da situação atual.


Por que tantos policiais estão indo para baixo na PM-SP?

Segundo o Dr Gilberto, o principal motivo da debandada é a desmotivação dos policiais para continuar no serviço. Essa desmotivação tem várias raízes, entre elas:

  • Falta de folga real e excesso de trabalho: O policial infelizmente consegue aproveitar suas folgas para descansar ou estar com a família, devido à chamada "agenda delegada" — escalas extras que, na prática, se tornam obrigatórias para complementar a renda, gerando estresse e desgaste físico e emocional.
  • Insegurança jurídica: Hoje, o policial não sabe se volta vivo para casa após o serviço e tampouco se manterá seu emprego, pois a "via rápida" para demissão tem sido usada com frequência. Muitas vezes, erros em ocorrências resultam em processos e demissões rápidas, mesmo que o policial seja posteriormente absolvido na justiça criminal.
  • Salário defasado e falta de valorização: Apesar de o baixo salário sempre ter sido uma realidade, hoje ele se tornou um fator ainda mais crítico, pois o policial percebe que, em outras funções, como vigilância privada, pode ganhar mais trabalhando menos e com menos pressão.
  • Diferenças internas e falta de acolhimento: A corporação apresenta uma divisão clara entre oficiais e praças, com oficiais frequentemente trabalhando em funções administrativas e ganhando mais, enquanto as praças, que estão na linha de frente, enfrentam maiores riscos e responsabilidades sem o devido reconhecimento.
  • Assédio moral e pressão excessiva: Cobranças exageradas, ordens implícitas de trabalho voluntário em atividades não relacionadas ao policiamento e um ambiente de trabalho opressivo também alterado para o desgaste da tropa.

Esses fatores combinados levaram a um número alarmante de pedidos de baixa, incluindo oficiais de várias patentes, algo considerado anormal e preocupante para a corporação.

Os impactos da debandada e o que pode ser feito

A saída constante de policiais gerava um efeito dominador negativo para a segurança pública e para o próprio PM. A falta de proteção aumenta a sobrecarga dos que permanecem na ativa, elevando o estresse e o risco de erros, o que pode resultar em mais punições e demissões.

O Dr Gilberto destaca que a solução não é simples nem imediata, mas sugere alguns caminhos:

  • Realização de pesquisas anônimas e séries para identificar os problemas reais que afetam os policiais no dia a dia, garantindo que as respostas sejam sinceras e possam orientar políticas eficazes.
  • Valorização do policial de rua , que é o verdadeiro protagonista da segurança, com melhores condições de trabalho, remuneração justa e respeito às suas folgas e direitos.
  • Mudanças na cultura organizacional , combatendo o assédio moral e promovendo uma liderança mais próxima e acolhedora, que entenda as dificuldades da tropa.
  • Uniformidade na gestão e continuidade nos comandos , evitando mudanças frequentes que desestabilizam as unidades e prejudicam a moral dos policiais.
  • Revisão da "via rápida" e dos processos disciplinares , para garantir a justiça e evitar demissões precipitadas que geram frustração e insegurança.

Gilberto também ressalta que os batalhões onde o comando é atuante e próximo da tropa apresentam menor índice de pedidos de baixa e melhor desempenho funcional, mostrando que a liderança faz diferença.

Este cenário evidencia a necessidade urgente de atenção às condições de trabalho e à saúde física e mental dos policiais militares de São Paulo. A debandada não é um problema isolado, mas um sintoma de questões estruturais que precisam ser enfrentadas para garantir a segurança e o bem-estar dos profissionais que dedicam suas vidas à proteção da sociedade.

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