A formação nas escolas policiais sempre teve sua própria cultura — dura, crua e cheia de rituais de quebra de ego. Em meados de 2014 e 2015, por exemplo, ser chamado de jegue ou monstrão era parte do dia a dia da formação. Era considerado normal — ou ao menos aceito — e fazia parte de um “batismo” para endurecer o recruta. Mas será que isso era saudável?
Na conversa, com o SDTV Podcast o convidado revela que, na época dele, esse tipo de tratamento era comum. Chamados de nomes pejorativos pelos superiores, os soldados aceitavam por entender que faziam parte da cultura interna. No entanto, ele mesmo reconhece que havia um limite, e que nem todos encaravam com leveza: "Nem meu pai me chamava de jegue", dizia um colega. Isso demonstra como esses excessos, muitas vezes, já causavam incômodo lá atrás.
Com a evolução da sociedade e o foco crescente em uma polícia mais técnica e humanizada, essas práticas vêm sendo repensadas. O entrevistado destaca que hoje em qualquer empresa, se te chamarem de monstrão num treinamento, no outro dia quem falou isso já não faz mais parte do quadro. Isso mostra como o tratamento entre profissionais precisa se modernizar, inclusive dentro das instituições policiais.
Outro ponto levantado é a diferença entre o treinamento da Guarda Civil Municipal e da Polícia Militar. Por não serem militares, os guardas não passam por esse tipo de formação rígida. Isso pode explicar por que muitos agentes desenvolvem problemas psicológicos já na vida operacional. O entrevistado ressalta que os traumas não vêm da escola em si, mas sim da rotina de serviço, perseguições internas e apelidos depreciativos entre colegas e superiores.
Mesmo assim, ele acredita que tudo tem um propósito — e que seu caminho foi traçado por algo maior. Mesmo tentando se manter longe de Minas Gerais, acabou sendo direcionado para locais próximos, como Taubaté. Ele brinca: "Quem estuda, escolhe. Quem não estuda, é escolhido." Com humildade, reconhece que algumas decisões foram consequência de não ter se preparado melhor.
A motivação inicial para entrar na PM era clara: ROTA. O nome forte, o peso da farda e o respeito nas ruas fizeram os olhos brilharem. Mais do que o Baep ou a Força Tática, a ROTA representava o auge do operacional. Mas com o tempo — e as dores da rotina — a realidade foi mudando. Ao ponto de não conseguir mais olhar para uma viatura sem sentir o peso das lembranças.
Hoje, os tempos são outros. O policial moderno é mais técnico, mais capacitado e precisa ser também mais emocionalmente preparado. A cultura do jegue está ficando para trás. E isso, para muitos, não é perda de autoridade. É ganho de humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário